Como são produzidas as lesões no trânsito?

Por Dirceu Rodrigues Alves Jr.

O trânsito vem mostrando a cada dia maior número de vítimas, e pior, com lesões cada vez mais graves. Conter esse descalabro parece, as autoridades, insolúvel.

Porque ocorrem lesões de pequeno, médio e grande porte? É isso que precisamos entender e praticar com objetivo de reduzir o alto número de acidentes no trânsito.

Energia cinética é a energia que anima um corpo em movimento. A energia cinética do trauma ou biomecânica do trauma estuda a transferência de energia de fonte externa para o corpo da vítima. Lesões por movimento são responsáveis pela maioria das mortes e sequelados em nosso país.

Fatores múltiplos levam ao acidente, principalmente velocidade, álcool, drogas, fadiga, sono e desatenções provocadas pela tecnologia introduzida no veículo. Quanto maior a velocidade, maior a energia e em cosequência lesões mais graves. O agente lesivo é o que tem energia e que pode ser mecânico ou cinético, térmico, químico, elétrico e radiação.

O ambiente do acidente faz suspeitar de lesões que serão encontradas. O aumento do peso dos órgãos pode produzir: ruptura, arrancamento, deslocamento e outros. Numa desaceleração brusca ou colisão, o fígado que tem um peso médio de 1,700kg, a 100 km/h terá o peso de 47 kg. O coração que tem 0,300 KG passa a 8 kg. O rim com 0,300 kg passa a 8 kg. O cérebro com seus 1,500 kg passam para 42 kg. O baço sai de 0,150kg para 4 kg. Podemos afirmar que a 100 km/h o corpo pesa 28 vezes mais.

Interessante é que no que chamamos de trauma fechado ocorre deformidade da parte externa que volta ao normal deixando lesão interna. É dessa forma que não vemos lesão externa e, no entanto temos, por exemplo, uma ruptura do baço ou uma lesão no fígado. Aparentemente nada aconteceu, no entanto, existe um quadro gravíssimo dentro do abdome.

No trauma penetrante forma-se uma cavidade permanente. Numa colisão a energia cinética projeta a pessoa para cima e para frente na velocidade em que estava o veículo. Irão aparecer lesões decorrentes da energia cinética absorvida pelo corpo.

Num acidente de trânsito existem três tipos de colisão:

1ª colisão – A energia cinética é absorvida pelo veículo

2ª colisão – deformidade de estruturas internas evidenciando onde a vítima colidiu

3ª colisão – lesões na vítima

Na colisão (impacto e parada do veículo), costumamos dizer que a duração desse choque é um lapso de tempo. Estima-se que corresponda a um décimo de segundo. As colisões da máquina podem ser frontal, lateral, traseira e capotamento, sendo este impossível de se prever lesões. Com a moto temos colisão e queda.

Nos atropelamentos as lesões são mais graves porque a vítima absorve toda a energia.
Caracterizam-se três tipos de colisão:

1ª colisão – com o corpo

2ª colisão – com o veículo

3ª colisão – corpo com solo

Os atropelamentos em adultos, quase sempre produzem fratura de membros inferiores com lesões secundárias produzidas pela 2ª e 3ª colisões. Em crianças, compromete bacia e tronco e ocorre impacto secundário com a cabeça. Na desaceleração vertical (queda) depende da altura, região do corpo que recebe o impacto e a superfície atingida.

Devemos suspeitar de trauma grave quando houver óbito de ocupante, temos que imaginar que outros ocupantes receberam a mesma energia cinética. Também quando houver ejeção, queda maior que duas vezes a altura da vítima e colisão com velocidade a cima de 32 km/h.

O estudo do departamento de tráfego britânico mostra que com:

32 km/h -,5% vão a óbito/ 65% sofrem lesões/ 30% ilesos

48 km/h – 45% vão a óbito/ 50% sofrem lesões / 5% sobrevivem

64 km/h – 85% vão a óbito/ 15% sofrem lesões

A velocidade é mais importante que a massa. Dobrando a massa do carro teremos o dobro da energia. Enquanto que dobrando a velocidade teremos o quádruplo dessa energia. Uma colisão a 60 km/h é como se sofresse uma queda do 11º andar de um prédio. A 80 km/h seria do 20º andar. A 120 km/h do 45º andar.

Dessa forma, podemos dizer que a energia mecânica de colisão de um automóvel com uma árvore, parte será absorvida pela árvore, pelo carro e por seus ocupantes. Parte dessa energia será dissipada sobre a forma de calor. Ocorre transferência de energia.

A aceleração e desaceleração são causadas pela transferência de energia para mover um corpo em repouso ou pará-lo quando em movimento. A colisão frontal tem o que se chama de efeito tesoura porque cabeça e tronco são projetados violentamente para frente produzido lesões de face, cabeça, pescoço, lesões internas no abdome e coluna lombar. A vítima nessa condição tem 25 vezes mais possibilidade de ir a óbito.

Quando o banco está muito reclinado (a cima de 110º) há grande possibilidade de evoluir com fraturas de membros inferiores, bacia, tórax, abdome, pescoço e cabeça.

Concluímos que quanto mais velocidade maior é a dificuldade de frenagem, maior a possibilidade de colisão de alta energia e maior a possibilidade de óbito e lesões graves. Tudo isso justifica as ações dos gerentes de tráfego atuarem de maneira imperiosa no controle da velocidade quer na área urbana quer nas rodovias.  A necessidade de fiscalização e de multas não pode ter o cunho de aumentar a arrecadação do município, mas sim de preservar vidas.

Dr. Dirceu Rodrigues Alves Júnior
Diretor de comunicação e do Departamento de Medicina de Tráfego Ocupacional da ABRAMET

Fonte: ABRAMET

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